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Os desafios da inclusão do estudante surdo no IFMT

Publicado por: Reitoria / 26 de Setembro de 2024 às 18:14

Setembro é o mês da visibilidade da comunidade surda, também conhecido como Setembro Surdo ou Setembro Azul. O mês marca datas importantes para a comunidade surda, como o Dia Nacional do Surdo, celebrado hoje 26 de setembro, e o Dia Internacional dos tradutores/intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais), comemorado no dia 30.

Para ampliar a visibilidade dessa comunidade, o Instituto Federal de Mato Grosso traz o relato dos estudantes Camila dos Santos Ferreira, que cursa o oitavo semestre de licenciatura em matemática do campus Campo Novo do Parecis e Éder Marlon, do curso de Engenharia de Controle e Automação, do campus Cuiabá Octayde Jorge da Silva, contando sobre os desafios enfrentados em suas trajetórias como pessoas surdas.


O aluno de engenharia Éder e a intérprete de Libras, Izaura

Depois de passar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Éder Marlon deixou a pequena Arenápolis junto com a esposa para cursar engenharia no IFMT e conta que segue se esforçando para construir um futuro de realizações.

“Aqui no FMT tem muita ajuda, eu me socializo, tem tradutores, psicólogos, vários profissionais na área do ensino também. A gente consegue se comunicar. E eu senti a minha evolução, meu conhecimento evoluiu muito. Aqui é diferente, sinto uma evolução de conhecimento,” conta.

Seu sonho é concluir a graduação e seguir se desenvolvendo pessoal e profissionalmente. “No futuro quero ser um bom profissional, evoluir. Penso em estudar mais, quero aprender mais, fazer um mestrado, doutorado, ter essa experiência. Me esforço para isso”, completa.

No campus Cuiabá Octayde as intérpretes de Libras Izaura Cristina Maciel Alessandra Mariza Leite e Leandra Costa Ferreira Duarte acompanham os estudantes. Além do intérprete contratado por uma empresa terceirizada, Marcos Gontijo.

A estrudante Kamila entre as intérpretes de Libras Stella e Cláudia

Kamila dos Santos Ferreira, 30 anos, está no oitavo semestre da licenciatura em matemática no IFMT Campos Campo Novo do Parecis. Ela lembra que começou o curso, “em partes, por influência de uma amiga surda que já estudava na instituição e contou a ela do suporte recebido.

“Ela me falou que tinha intérpretes, acessibilidade, inclusão, com o tradutor e intérprete de Libras em sala de aula te acompanhando a todo momento. E eu fiquei bem interessada, porque pra mim estudar matemática e poder me formar nessa área é mais do que uma oportunidade de carreira. É a realização de um sonho que quero para o meu futuro: trabalhar ensinando matemática para crianças surdas”.

Camila revela que apesar do apoio de intérprete de Libras, em alguns momentos, por questão de saúde do profissional ficou desassistida do tradutor. “Essa é uma questão que a gente ainda está lutando, ainda precisa de mais investimento para ter mais tradutores de libras dentro da instituição, principalmente aqui em Campo Novo, que a comunidade surda é muito interessada em estudar. A gente sempre tem novos colegas surdos chegando para o IF”.

Mas ela conta que persistia, driblava esses obstáculos e sentia o apoio não só do tradutor de Libras, mas também dos colegas. “Quando um tradutor não estava na sala, doente ou algo assim, eu tinha o apoio dos meus colegas, eles me ajudavam, os professores também. Muitos professores sempre tiveram muito interesse pela comunidade surda, em participar de projetos e até cursos de Libras, isso me deixou muito feliz”.

A estudante também fez duas viagens com o Instituto Federal, o que permitiu “expandir meus horizontes, aprimorar conhecimentos e ter contato com outros alunos surdos também”. Nessas viagens ela também era acompanhada pelo intérprete de Libras, o que possibilitava acessibilidade e a comunicação sem barreiras.

“Sempre que posso convido os outros surdos, amigos, colegas, para que venham também para o Instituto Federal para ter uma carreira, uma profissão e alcançar seus sonhos para o futuro. É uma escola ótima, a estrutura, os professores são excelentes, qualificados. A nossa luta enquanto pessoa surda continua, por mais internet, mais acessibilidade, mas aqui no Instituto Federal a gente tem essa oportunidade de ter uma carreira”.

No IFMT Campo Novo do Parecis as intérpretes de Libras Stella Martins Sousa e Cláudia Aline Dassow assistem os estudantes.

Kamila e o colega surdo Kayki, estudante de Agronomia

Um surdo entre duas línguas

A obra “Um surdo entre duas línguas”, escrita pela Profª Drª Suammy Cordeiro, pesquisadora, docente do IFMT e intérprete de libras aborda a jornada única de aquisição linguística de uma pessoa surda que nasce em uma família ouvinte, com foco nas duas línguas que permeiam sua vida: a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Publicado em 2024, o livro retrata aspectos como afetividade, interação e pertencimento, além de reconhecer a importância da cultura e identidade surda em uma jornada necessária e enriquecedora de 141 páginas.

A narrativa convida o leitor a entender as experiências de uma pessoa surda ao se deparar com a realidade complexa de dois sistemas linguísticos diferentes. A obra busca trazer informações importantes sobre a surdez, oferecendo um olhar íntimo sobre a experiência de um sujeito não ouvinte em sua família de ouvintes, e que cresce bilíngue.

Ao se conectar com a história do protagonista, professores e alunos podem desenvolver maior sensibilidade e empatia em relação às pessoas surdas, compreendendo suas necessidades e desafios. O livro dialoga com a pesquisa de doutorado em Educação pela Universidade de Lisboa sobre a formação de professores para a inclusão no IFMT e oferecem uma base para a construção de projetos que promovam a inclusão de todos os estudantes na instituição.

Ao lado de mais três docentes de Libras, lotados nos campi de Juína, Campo Novo do Parecis e São Vicente, Suammy Cordeiro, atualmente no Campus Cuiabá Octayde Jorge da Silva, foi a primeira docente de Libras do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).  

“Como professora de Libras, acredito que a leitura deste livro pode contribuir para que possamos aprender mais sobre a cultura surda e trabalhar juntos para promover a inclusão de todos os estudantes no âmbito institucional,” disse Suammy.

Apesar da inclusão ser cada vez mais premente em todas as esferas sociais a baixa quantidade de acessos a publicações sobre esse tema se mostra notória.

“Em suma, a obra tem o potencial de transformar a forma como vemos a surdez, a pessoa surda e a Libras no IFMT, contribuindo para a construção de uma comunidade mais justa e inclusiva em que todas as pessoas, independentemente de sua condição, possam se expressar e interagir plenamente, por diferentes línguas”.

No IFMT foram produzidos alguns guias de atendimento ao surdo, como por exemplo, o Guia de atendimento ao surdo no serviço público e o Guia de atendimento educacional especializado em tempos remotos, ambos em processo de submissão em revista, para publicação de artigo e publicação. Também são produzidos vídeos de explicação de conteúdo no âmbito das aulas de Libras ofertadas para os campi, para consulta e estudo dos estudantes do IFMT.

Suammy no lançamento do seu livro "Um surdo entre duas línguas"

O livro “Um surdo entre duas línguas” pode ser encontrado pelo site da Amazon e da Appris editora.

 

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